Ucrânia marca 21º aniversário da tragédia de Tchernobil

Centenas de ucranianos acenderam velas na manhã de quinta-feira, 26 de abril de 2007, para marcar os 21 anos da explosão do reator nuclear de Tchernobil, no que se transformou no pior acidente nuclear da história mundial. O presidente Viktor Yushchenko participou da celebração.

Na tragédia, o reator nuclear número 4 explodiu à 1h23 do dia 26 de abril de 1986, espalhando radiação nuclear por uma vasta área da ex-URSS e em grande parte do norte da Europa.

O desastre, que durante três dias foi mantido em segredo pela ex-União Soviética (URSS), resultou em milhares de mortes, desenvolvimento de cânceres em milhares de pessoas, além de contaminação do solo e graves conseqüências psicológicas.

Efrem Lukatsky/AP

 

Apenas em 28 de abril de 1986, depois que cientistas suecos detectaram radioatividade, o Kremlin admitiu o acidente. Como os elementos liberados pela explosão demoram séculos para perder a radioatividade --300 anos somente no caso do césio 137--, as regiões mais afetadas continuam trabalhando para minimizar os efeitos da tragédia.

Parentes de vítimas fazem fila para lembrar mortos em desastre nuclear de Tchernobil  

Centenas de milhares de pessoas tiveram de ser deslocadas, e grande parte das terras férteis ficaram devastadas.

"Com pesar nós reverenciamos os heróis que fizeram o resgate e as vítimas deste desastre nuclear que feriu nossa terra", disse Yushchenko, citado pela agência de notícias Associated Press, durante uma cerimônia na manhã desta quinta-feira.

"É um dia para se lembrar dos amigos que deram suas vidas para salvar a Europa da catástrofe", disse Oleksandr Naumenko, ex-policial que participou dos resgates.

Contaminação

Até hoje não se sabe ao certo quantas pessoas morreram em conexão com a explosão, que liberou radiação nuclear 400 vezes maior que as bombas atômicas lançadas pelos EUA sobre Hiroshima em 6 de agosto de 1945.

A agência de saúde da ONU calcula que ao menos 9.300 pessoas desenvolveram câncer devido à exposição à radiação. A usina nuclear de Tchernobil foi fechada em 2000.

Entre 1992 e 2002, foram registrados 4.000 casos de câncer de tireóide em pessoas que, na época do acidente, tinham até 18 anos e moravam em Belarus, Rússia ou Ucrânia. Como esse tipo de doença é raro entre jovens, estima-se que ele tenha sido causado pela grande incidência de iodo-131, liberado com o vazamento de Tchernobil.

No caso específico das vítimas de Tchernobil, a tireóide --que tradicionalmente retém iodo da corrente sangüínea-- passou a acumular uma quantidade maior deste elemento do que deveria. Daí o surgimento do câncer nas pessoas que moravam (ou ainda moram) nas regiões afetadas.

Além de contaminar os seres humanos pelo ar, os elementos radioativos podem entrar no corpo levados por água, leite e alimentos. O consumo de verduras plantadas em solo irradiado apresenta riscos, assim como carne e leite produzidos [animais que se alimentam de vegetação com radioatividade, têm seu leite contaminado.

 

 

fonte:  Folha Online

http://www.folha.uol.com.br/

 

Conheça os danos causados à saúde pela radiação de Tchernobil
JULIANA CARPANEZ
da Folha Online

O acidente nuclear em Tchernobil, em 26 de abril de 1986, formou uma nuvem carregada de substâncias radioativas que, devido às condições climáticas, espalharam-se pelo ar e penetraram o solo. O contato com estas substâncias teve conseqüências sérias para a saúde das pessoas --muitas delas desenvolveram câncer, problemas circulatórios e catarata.

Nos casos mais graves, a radiação altera o DNA das células, fazendo com que elas percam seu ritmo normal de divisão e se comportem como células cancerosas. Isso tudo identificado a longo prazo --a leucemia, que se manifesta mais rápido que outros tipos de câncer, só aparece nas pessoas irradiadas depois de pelo menos seis anos.
Sandra Bellintani, pesquisadora do Ipen
"Quanto maior a exposição à radiação, maior a probabilidade de as vítimas desenvolverem câncer", explica Sandra Bellintani, pesquisadora da área de radioproteção do Ipen (Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares). "Além disso, existe a possibilidade de os danos serem transmitidos entre gerações", diz , acrescentando que pesquisas ainda não identificaram essa "herança".

Contaminação

Entre 1992 e 2002, foram registrados 4.000 casos de câncer de tireóide em pessoas que, na época do acidente, tinham até 18 anos e moravam em Belarus, Rússia ou Ucrânia. Como esse tipo de doença é raro entre jovens, estima-se que ele tenha sido causado pela grande incidência de iodo-131, liberado com o vazamento de Tchernobil.

No caso específico das vítimas de Tchernobil, a tireóide que tradicionalmente retém iodo da corrente sangüínea-- passou a acumular uma quantidade maior deste elemento do que deveria. Daí o surgimento do câncer nas pessoas que moravam (ou ainda moram) nas regiões afetadas.

Além de contaminar os seres humanos pelo ar, os elementos radioativos podem entrar no corpo levados por água, leite e alimentos. O consumo de verduras plantadas em solo irradiado apresenta riscos, assim como carne e leite produzidos [animais que se alimentam de vegetação com radioatividade, têm seu leite contaminado].

 

"Efeitos probabilísticos"

Quando indivíduos não são afetados por altas doses de radiação, as conseqüências para sua saúde são chamadas de "efeitos probabilísticos", uma espécie de estado de atenção. "As pessoas que se encaixam neste grupo não sofrem os danos mais graves. No entanto, este quadro pode sofrer mudanças, caso elas continuem se expondo à radiação", afirma a pesquisadora do Ipen.

Apesar de não haver estudos que comprovem a transmissão dos danos da radioatividade pelos genes --incluindo daqueles que se encaixam no "efeito probabilístico"--, existe a chance de estas evidências aparecerem daqui a algumas gerações. Da mesma forma, serão necessários centenas de anos para que elementos da antiga usina deixem de contaminar os habitantes daquela região. O césio 137, por exemplo, leva cerca de 300 anos para perder sua radioatividade.

Algumas alternativas agilizam o processo de descontaminação [para cada substância radioativa, há um tipo de medicamento que acelera sua excreção via suor, urina e fezes], mas aparentemente elas não são utilizadas nas áreas afetadas pela usina de Tchernobil.

Anatoli Lebedko, líder da oposição ao governo bielo-russo, afirma que o presidente de Belarus, Alexander Lukashenko, "engana" a população para aliviar o peso no Orçamento nacional dos programas de combate às seqüelas da radioatividade. Em entrevista à agência de notícias Efe, Lebedko afirmou que o presidente recusa assistência do Ocidente, especialmente aos programas médicos e de repouso em sanatórios dirigidos às crianças bielo-russas.

Diversas ONGs (organizações não-governamentais) acusam os países da ex-União Soviética de rejeitar ajuda estrangeira e permitir que sua população continue vivendo nas áreas contaminadas.

 

Site Elaborado por: Marcelo Ortiz Ficel