Caminhos

 

Passados 102 anos da descobertas de Wilhem Conrad Roentgen que deram origem as imagens diagnósticas e 22 da regulamentação da profissão de Técnico em Radiologia cabe fazermos uma reflexão acerca de nossa categoria. Para tanto é necessário fazermos um rápido retrospecto de nossa trajetória.

Nossa história

Com os poucos recursos diagnósticos disponíveis no início da segunda metade do século XX os operadores e técnicos em radiologia eram peças importantes na estrutura hospitalar. Grande parte dos diagnósticos diferenciais se fazia baseados em estudos radiográficos simples ou com o uso de meios de contraste. Profissionais com conhecimentos diferenciados eram valorizados e disputados pelo mercado.

Surgidos quase que informalmente e, não raro, sem qualquer formação teórica tornaram-se profissionais privilegiados.

Ainda que contassem com bons salários e privilégios concedidos apenas à categoria médica, a categoria se mantinha em perfeito equilíbrio com o mercado, pois eram poucos os que se dispunham a aventurar nos “riscos da radiação”, tanto que em grandes centros como São Paulo e Rio de Janeiro era possível contar nos dedos de uma única mão os cursos então existentes.

Houve, em nível mundial, a partir da década de 50, como fruto do desenvolvimento das pesquisas que demonstraram os riscos das radiações ionizantes, particularmente as radiações X, um maior rigor na legislação visando resguardar a saúde dos profissionais que manuseavam fontes radioativas. No Brasil leis protecionistas foram implementadas, como a jornada de trabalho de 24 horas, a aposentadoria especial aos 25 anos de serviço e o adicional de periculosidade em grau máximo (40%). Essas leis estavam em concordância com as tecnologias e riscos de sua época, tanto que, ao longo dos anos ninguém questionou sua legitimidade.

Com poucas variações, esta confortável situação se manteve por muitos anos.

A década de 70 marca uma grande mudança tecnológica em todos os aspectos da sociedade. Na medicina esta mudança também se fez sentir, diversos novos métodos diagnósticos surgiram neste período, muitos não ligados à imaginologia. Na Radiologia houve também uma verdadeira revolução. Surgiram aparelhos de Ultra-sonografia mais precisos e com diversas aplicações diagnósticas. O aparecimento dos equipamentos de TC em 1.972 inicia uma nova época, a da imagem digital. Mais tarde surgem os equipamentos a Ressonância Nuclear Magnética.

Surgem novas tecnologias visando também a proteção dos profissionais e usuários das radiações ionizantes.

Ao mesmo tempo, por força dessas circunstâncias, o aprimoramento começa a se fazer necessário. O profissional que outrora era um prático e de quem se exigia escolaridade básica passa a ser mais exigido pela legislação e pela tecnologia.

A categoria também passa a sentir a necessidade de regulamentação de sua profissão, o que só ocorreu após quase 20 anos de árdua luta, em 29 de outubro de 1.985, com a sanção da Lei nº 7.394.

A Lei 7394 reflete a conjuntura histórica, política, tecnológica e social dos anos que antecederam sua elaboração.

 

Visão de futuro

Hoje, passados 22 anos, é necessário discutirmos um novo contexto:

·        Houve uma grande proliferação de escolas de formação em nível médio, que colocam anualmente no mercado milhares de novos profissionais.

·        Baseado na Lei nº 9.394 de 1.996 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação - LDB) as faculdades começaram a oferecer a formação em nível superior de Tecnólogo em Radiologia, profissão que ainda carece de efetiva regulamentação.

·        Técnicos e Tecnólogos disputam mercado com outros profissionais. Embora se discuta a legalidade deste exercício.

·        Diversos postos de trabalho que não utilizam radiações ionizantes são oferecidos pelo mercado.

·        As relações trabalhistas se diversificaram: serviços terceirizados, cooperativas, contratos setoriais isso sem falarmos na realidade dos contratos informais.

·        A evolução tecnológica mudou a relação de risco das contaminações por radiação em processos de trabalho.

Tanta mudança no cenário traz a necessidade de abandonarmos os dogmas e fazermos uma discussão desprovida de paixões. É imprescindível chamar a categoria a discutir suas questões.

É imperativo deixarmos de lado vaidades pessoais, unificar a categoria em torno de suas entidades representativas (conselho, sindicatos e associações científicas) e levá-la a discutir as questões que estão na ordem do dia.

É urgentemente necessário “por o dedo na ferida”, parar de fingir que “está tudo como sempre esteve” e encarar de forma séria a discussão de temas como:

·        Qual deve ser o papel de cada profissional: Auxiliar, Técnico e Tecnólogo em Radiologia?

·        A obrigatoriedade da jornada limite de 24 horas se aplica somente há contato com radiação ionizante ou a todos os profissionais da imaginologia?

·        Qual deve ser a grade curricular dos Técnicos e Tecnólogos em Radiologia?

·        Interessa à categoria a proliferação indiscriminada de cursos de formação de nível médio e superior?

Estes são apenas alguns temas dentre tantos que devem ser colocados.

Certamente, muitos, bons, honestos e legítimos argumentos surgirão para defender diferentes opiniões, surgirão diferentes indicações de caminhos a seguir. Porem, se não tivermos coragem para iniciarmos a discussão nunca chegaremos às respostas. Continuaremos errantes, perdidos num eterno labirinto de dúvidas que só nos prejudicam e impedem nosso crescimento político enquanto categoria.

Devemos aproveitar este momento de ebulição, de grandes eventos na área de radiologia, que tem acontecido por todo o País para novamente nos realinharmos com a história.

Somente com clareza de nossos objetivos teremos a força para nos colocarmos em posição de liderança nos serviços e, ai sim determinarmos, na prática, quem está hábil a exercer a profissão.

 

Marcelo Ortiz Ficel             

Tecnólogo em Radiologia – SP

 

Contatos: mficel@uol.com.br     

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