CLÁUDIA COLLUCCI
da Folha de S.Paulo
O Inca (Instituto Nacional de Câncer) implanta a partir de abril de 2009 um
sistema que pretende melhorar a qualidade das mamografias feitas no SUS. Dados
do próprio instituto indicam que até 70% dos exames feitos nos serviços
credenciados pelo Ministério da Saúde têm má qualidade, o que prejudica o
diagnóstico precoce do câncer.
O sistema, montado em parceria com o CBR (Colégio Brasileiro de Radiologia) e a
Agência Nacional de Vigilância Sanitária e com o apoio do Instituto Avon, vai
interligar todos os serviços que fazem mamografia no país, padronizando as
condutas e as metodologias.
Segundo Luiz Antônio Santini, diretor-geral do Inca, todos os laudos serão
emitidos dentro dos critérios do CBR. "Sem dúvida, isso vai melhorar muito a
qualidade dos exames e o diagnóstico precoce."
A melhoria das mamografias, porém, é apenas a ponta do iceberg. Um estudo do
Gbecam (Grupo Brasileiro de Estudos do Câncer de Mama), divulgado no sábado,
mostrou que o tratamento do câncer de mama no SUS está aquém daquele oferecido
pela rede privada.
O levantamento, com 4.912 mulheres com câncer de mama tratadas em 28 hospitais
públicos e privados, revelou, por exemplo, que 36% das mulheres do SUS descobrem
o tumor em estágio avançado, contra 16% nos serviços privados, e que, no SUS,
usa-se menos antraciclinas e taxanos (drogas que aumentam as taxas de sobrevida)
em relação aos privados: 13,8%, contra 23,5%.
Na rede pública, a utilização de terapias biológicas no tratamento do tumor
também é mínima -56% nos privados, contra 5,6% no SUS. Hoje, sabe-se que o uso
de determinados anticorpos em pacientes com tipo de câncer de mama agressivo
(chamado HER2 positivo) diminui em 50% a probabilidade de recidiva do tumor.
Para Santini, do ponto de vista científico, os dados da pesquisa não são
conclusivos, estão sujeitos a vieses e precisam ser confirmados por outros
estudos. "Os dados são importantes, mas não representam uma verdade absoluta."
Segundo ele, o Inca está avaliando, dentro de um protocolo de estudo, a relação
custo-benefício de incorporar as terapias biológicas no tratamento de pacientes
com o HER2 positivo. "É um tumor que afeta uma pequena parcela de mulheres [20%
das que têm câncer de mama], mas que o tratamento é caríssimo. Para nós,
representa hoje o quarto maior custo com medicamentos."
Santini diz que o Brasil também participará de um estudo financiado pelo
Instituto Nacional do Câncer dos EUA que avaliará novas terapias para tumores em
estágio avançado.
Março/2009
Fonte:
http://www1.folha.uol.com.br/folha/ciencia/ult306u532075.shtml
