Minas Gerais inicia produção de radiofármacos para medicina nuclear

 

 

O Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear (CDTN/CNEN) inaugurou em Belo Horizonte (MG), sua Unidade de Pesquisa e Produção de Radiofármacos (UPPR) para medicina nuclear. A produção, antes restrita ao Rio de Janeiro e São Paulo, fornecerá matéria-prima para a realização, em Minas Gerais, de exames para diagnóstico precoce de vários tipos de câncer e outras doenças.

Resultado do investimento de R$ 13,2 milhões, oriundos de emenda ao orçamento da União proposta pela bancada federal mineira, a unidade introduz o que há de mais moderno na tecnologia cíclotron, acelerador de partículas da nova unidade.

Inicialmente, será produzido o Fluorodeoxiglicose (FDG), radiofármaco mais utilizado pela Tomografia por Emissão de Pósitrons (PET), respondendo por mais de 95% da demanda mundial dessa técnica. As imagens obtidas pela câmara PET, acoplada a um tomógrafo, podem detectar lesões pequenas (5 a 10 mm) para alguns tipos de câncer, além de aplicações na cardiologia e neurologia.

Todo o processo de produção de radiofármacos obedece às normas de boas práticas de fabricação de medicamentos. Os técnicos do CDTN que irão operar a UPPR foram treinados em instalações similares, no Brasil e no exterior, e estão capacitados para iniciar a produção regular .

Além da UPPR, o CDTN está investindo em laboratórios de pesquisa em radiobiologia e em física médica, um projeto integrado à produção local de radiofármacos que permitirá o desenvolvimento de outros radiofármacos e suas aplicações.

Infra-estrutura

Com cerca de 900 m² de área construída, a UPPR consta, basicamente, de um Cíclotron (acelerador de partículas), equipamento onde ocorre a reação nuclear que produz o material radioativo desejado; unidades de síntese de fármaco marcado com o material radioativo desejado, resultando no radiofármaco; equipamentos para manipulação, dosagem e fracionamento do radiofármaco; instalações para controle da qualidade químico, radioquímico e microbiológico.

 

O emprego dos radiofármacos na medicina nuclear

Radiofármaco é um medicamento marcado com material radioativo. O fármaco exerce essa função como qualquer outro medicamento, só que ao ser marcado com um material radioativo ganha outras funções. Entre uma nova função para o diagnóstico vai permitir ao médico identificar novas doenças, novos tumores ou mal funcionamento do organismo. O radiofármaco pode também ser empregado em terapia, para auxiliar no tratamento, utilizando então as propriedades dos materias radioativos que se somam às propriedades dos fármacos, normal do medicamento.

O Brasil é bastante desenvolvido na área de radiofármaco. A maior parte da demanda nacional é atendida por intermédio da Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen), autarquia do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) à qual o Centro de Desenvolvimento de Tecnologia Nuclear (CDTN) está subordinado. Até dois anos atrás a Cnen detinha o monopólio da produção e uso de radioisótopos para marcar novas moléculas por meio do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), de São Paulo - a grande unidade de produção de material radioativo no País -, e também pelo Instituto de Energia Nuclear (IEN), no Rio de Janeiro. Mas, embora em pequena quantidade, o Brasil ainda importa uma parte do material radioativo que precisa para medicina nuclear.

Diagnóstico

A maior parte da utilização de radiofármacos é para diagnóstico em medicina nuclear. Os métodos mais tradicionais, como cintilografia, empregam há muitos anos o material radioativo, como o iodo, por exemplo. Nos últimos dez anos a técnica mais empregada pela medicina nuclear, para diagnóstico, é a tomografia de emissão de pósito, que utiliza um radioisótopo de meia-vida curta, no caso o fluor-18.

Meia-vida curta significa que o produto dura muito pouco tempo. A cada duas horas a sua utilidade radioativa cai a metade. A demanda pelos radiofármacos tem se mantido constante principalmente na área de oncologia, de neurologia e também na cardíaca. O aumento também se deve ao uso em tratamento. Por exemplo, no uso de iodo, não só para diagnosticar mas para tratar problemas de tireóide, do Samário, que é para minimizar a dor em paciente oncológicos.

O radioisótopo mais utilizado na medicina nuclear no País e no mundo ainda é o tecnécio-99, para cintilografia. O Brasil não produz a sua matriz, mas importa e processa em São Paulo.

Na cintilografia a pessoa recebe o material radioativo que após um tempo se deposita em alguns órgãos. Imagens tiradas posteriormente permitem ao médico avaliar as condições morfológicas e verificar se existem alterações no organismo da pessoa.

A tomografia de emissão de pósitos, conhecida como PET, é tida como revolucionária nesse sentido, porque não se apresenta como se fosse uma radiografia, uma chapa estática. Ela permite ao médico, pelo princípio de funcionamento do exame, detectar alterações metabólicas no funcionamento do organismo ou de determinados órgãos. O radiofármaco mais utilizado hoje na tomografia PET é a glicose marcada com fluor-18.

Os processos tumorais são ávidos por energia porque têm uma revolução celular muito rápida. Por isso os processos tumorais, às vezes, crescem tão rápido e são tão deletérios. Quando o paciente toma uma glicose marcada com fluor ela se concentra no local aonde está sendo gasta energia, onde o organismo está precisando de energia, ou seja onde há uma concentração muito forte nas células tumorais. Isso permite se consiga detectar processos cancerígenos bem no início.

São poucas as células tumorais que ainda não são visíveis na radiografia, na tomografia e mesmo na cintilografia. Hoje, já se consegue detectar esse problema e essa é a grande vantagem. A tomografia PET associa o exame morfológico às características do funcionamento do organismo metabólico. Essa é a revolução em andamento na medicina nuclear.

O que a Cnen implantou em Belo Horizonte, é uma unidade de produção da glicose marcada com fluor-18 para esses exames de tomografia de emissão de pósitos, a tomografia PET. O fluor-18, que é o material radioativo que está sendo associado, tem uma meia-vida de 110 minutos. Ou seja, a cada 110 minutos a quantidade de material radioativo cai a metade. Depois de quatro, seis horas deixa de existir, praticamente.

Isso significa que para esses radioisótopos de meia-vida tão curta a produção local é fundamental. Produzir em São Paulo e transportar para Belo Horizonte sai muito caro. Além disso, há o entrave da insegurança na logística do transporte, da garantia ao paciente de que o material estará disponível para ele. Assim, na prática, só existem tomógrafos de emissão de pósitos em locais, ou próximos aos locais que produzem esse material radioativo.

Desta forma, com a instalação da Unidade de Pesquisa e Produção de Radiofármacos (UPPR) no Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear (CDTN), Belo Horizonte adquire a capacidade de fazer esse exame localmente. Ter essa unidade de produção na capital mineira significa que os médicos e hospitais, que realizam exame de medicina nuclear, poderão ter confiança para fazer investimentos na área de medicina nuclear e oferecer essa tecnologia à população na certeza de que a Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen) estará lhe oferecendo, com segurança e qualidade, o material radioativo necessário.
 

Março, 2008

Site Elaborado por: Marcelo Ortiz Ficel