Pesquisa de Refluxo Gastresofágico por Cintilografia

 

1.Introdução

O refluxo de material ácido do estômago para o esôfago não significa necessariamente doença. Ele é comum e ocorre diversas vezes ao dia em todas as pessoas, mas por curtos períodos de tempo, esse ácido é eliminado do esôfago rapidamente. A mucosa do esôfago é pouco resistente ao ácido, mas tem a capacidade de suportar esse refluxo normal.
Em alguns casos, a mucosa do esôfago pode ter sua resistência diminuída ou o ácido refluir mais vezes ou por mais tempo que a mucosa esofágica pode resistir. O ácido pode ainda refluir até a garganta, ou causar sintomas pela simples irritação do esôfago. Nessas situações, o refluxo deixa de ser considerado normal e trata-se de Doença do Refluxo Gastresofágico (DRGE).

Fig. 1 Anatomia Trato Digestório
Fonte: http://www.gastrosite.com.br/doencas_esofrefluxo2.html

2.Fisiopatologia (como a doença ocorre)


Há diversos fatores que mantém o refluxo gastresofágico dentro dos níveis fisiológicos:
Diversas condições facilitam o aparecimento do RGE em níveis patológicos, levando à doença. Um dos mais conhecidos, porém mais controversa é a hérnia de hiato, ou hérnia hiatal. Normalmente, o esôfago termina no estômago pouco abaixo do hiato diafragmático. Na hérnia, a transição esofagogástrica está localizada acima do hiato, o que faz com que o estômago seja submetido à pressão do diafragma, não o esôfago. Enquanto esse é fino e tende a permanecer fechado pela pressão, o estômago tem paredes mais espessas e não cede à pressão do diafragma, deixando espaço livre para que o ácido reflua para o esôfago. No entanto, mesmo sendo mais freqüente em pessoas com DRGE que nas normais, pode haver hérnia mesmo em pessoas sem a doença.
Condições que aumentam a pressão intra-abdominal também facilitam o refluxo por empurrar o conteúdo gástrico para cima, incluindo ascite, obesidade, gravidez e exercícios extenuantes, nesses casos principalmente em adultos. Outras condições, que levam à redução da pressão extratorácica, "puxam" o conteúdo do estômago para o esôfago, principalmente as doenças pulmonares e otorrinolaringológicas, onde o esforço do paciente de respirar leva a essa alteração de pressão, neste caso tanto pode ocorrer com adultos ou em crianças.


3.Sintomas


Os sintomas da DRGE podem ser divididos em típicos: pirose e regurgitação e atípicos: origem esofágica, como disfagia, odinofagia e extra-esofágica, como tosse crônica e asma .

3.1.Manifestações da DRGE


Esofágicas:dores torácicas, quadros diversos de refluxos gastresofágicos.
Pulmonares: asma, tosse crônica, apnéia do sono, doença pulmonar obstrutiva crônica, bronquiolite.
Otorrinolaringológicas: otite média, sinusite crônica, laringoespasmo, estenose de laringe, rinite, pigarro, rouquidão, laringite crônica.

3.2.Sinais de alarme


Os sintomas são os mais conhecidos, pelo qual leva o paciente a procurar um médico:
Disfagia (dificuldade de deglutição)
Odinofagia (dor ao deglutir)
Anemia (o paciente fica geralmente pálido, pois a quantidade de pigmentos vermelhos no sangue é reduzida)
Hemorragia digestivo (sangramento ativo)
Náuseas e vômitos
Sintomas de grande intensidade
Sintomas predominantemente noturnos
Emagrecimento

4.Diagnóstico

4.1.Endoscopia Digestiva Alta (EDA)


É o método de escolha para visualização e avaliação da mucosa, devido à facilidade de sua execução e disponibilidade na maioria dos centros médicos em nosso meio. No entanto, a ausência de alterações endoscópicas não exclui o diagnóstico de RGE, já que 25 a 50% dos pacientes dos pacientes com sintomas típicos apresentam endoscopia normal, sendo portadores de doença do refluxo não-erosiva. Apesar de não ser o método ideal para constatar a presença de refluxo gastresofágico, a endoscopia permanece o exame inicial pois permite avaliar a gravidade da esofagite e realizar biópsias quando necessário.

Fig.2 Esofagite por Refluxo gastresofágico
http://www.cca.ufes.br/cakc/virais/Parvov25.gif

4.2.Raio-X contrastado (E.E.D)

Método que avalia o contorno interno do esôfago, permitindo a análise de distúrbios de contração, úlceras e estenoses (estreitamentos), mas não permite a análise das contrações como a manométrica nem a realização de biópsias como a endoscopia, exame realizado com a deglutição do meio de contraste a base de sulfato de bário.

Fig. 3 E.E.D com sulfato de Bário

4.3.Cintilografia de Refluxo

Consiste na observação do refluxo na área esofagiana, após a ingestão de uma solução marcada com tecnécio (substância radioativa). Hoje em dia, pela sua boa tolerância, a cintilografia tem sido recomendada em crianças.

4.3.1.Realizando a Cintilografia

O radiofarmaco utilizado é o enxofre coloidal(SN) marcado com 99mTc administrado por via oral. A cintilografia para RGE é útil na investigação do refluxo gastresofágico, tanto em adultos como em crianças. É considerado mais sensível que os métodos radiológicos, sendo também mais fisiológico e apresentando uma menor dose de radiação para o paciente. é realizado como procedimento de rotina a imagem tardia dos campos pulmonares (3 a 5 horas após a ingestão do radiofarmaco), para a pesquisa de aspiração pulmonar. Esta fase poderá ser dispensada a critério do médico solicitante.

4.3.2.Protocolo

Jejum de 04 horas para crianças e 08 horas para adultos
Radiofarmaco: 99mTc-SN
Dosagem: 1 mCi
Colimador: alta resolução
Aquisição: Iniciar logo após administração do radiofarmaco por via oral (misturado ao leite).
Incidências: Imagens seqüências com intervalo de 15 seg por imagem por 20 minutos.

Fig.4 Cintilografia para RGE normal

Fig.6 Cintilografia de  RGE positiva

Fig.5 Quantificação para RGE

Fig.7: Quantificação para RGE

Fig.8 Cintilografia de RGE positiva

 

Renato Camargo


Renato Camargo é Técnico em Radiologia da Clinica Cedimen Medicina Nuclear, Professor do Centro de Ensino Método e Discente do Curso de Tecnologia em Radiologia Centro Universitário São Camilo .
Contatos: renatodiagnostic@bol.com.br

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