A Eletronuclear
substitui amanhã o primeiro grande equipamento da usina nuclear de Angra 1 e o
Brasil entra na era da armazenagem do rejeito nuclear de grande porte.
A estatal que administra a usina trocará os geradores de vapor, que serão
levados a um depósito inicial com capacidade para armazenar o equipamento por um
período de 50 a 100 anos, no terreno da central nuclear.
A operação é complexa e pode ser vista como ensaio daquilo que será necessário
fazer ao fim das operações da primeira usina nuclear brasileira.
Em 24 de janeiro de 2009, Angra 1 foi desligada do sistema elétrico nacional
para efetuar a mudança. O retorno da usina ao sistema está marcado para 6 de
junho.
A Eletrobrás gastará R$ 724 milhões na troca de equipamento, para cobrir
aquisição, segurança, e outras despesas.
"O gerador substituído é um rejeito de grande porte, mas de baixa a média
radioatividade", diz Francisco Rondinelli, diretor da Aben (Associação
Brasileira de Energia Nuclear). "O prazo para que ele possa ser descartado no
ambiente é de 60 a 100 anos."
Os novos geradores foram fabricados pela Nuclep, no Brasil, com tecnologia da
empresa francesa Areva. Isso qualifica a Nuclep a, agora, exportar equipamentos,
diz a Eletrobrás.
Angra 1 foi adquirida como um pacote fechado, que não previa transferência de
tecnologia pelos fornecedores. O gerador substituído agora foi fabricado pela
Westinghouse, com base em um projeto da década de 1970. Angra 1 começou a operar
em 1985.
Os geradores são responsáveis pela produção do vapor usado para movimentar as
turbinas e o gerador de energia elétrica.
"O equipamento fica dentro da área de contenção. Dentro de seus tubos circula
água que tem contato com o reator. Ele gera vapor usando o calor da energia da
fissão nuclear", explica Leonam dos Santos Guimarães, assessor da presidência da
Eletronuclear.
O modelo de gerador da Westinghouse já apresentou problemas em usinas no mundo
todo. Segundo Guimarães, a liga metálica da qual é feito sofre efeito de
corrosão quando está sob tensão, o que reduz a vida útil da máquina. No mundo,
89 usinas já realizaram substituições como esta. Até 2011, outras 16 usinas
pretendem substituir esses equipamentos.
A tampa do vaso do reator de Angra 1 também terá de ser substituída em alguns
anos e seguirá para o mesmo depósito dos geradores. A usina foi licenciada com
vida útil até 2025, mas a Eletronuclear prepara estudos para prolongar sua
operação até 2045.
Em julho de 2003, o juiz Gustavo Bandeira da Rocha Oliveira, da 1ª Vara
Empresarial do Rio, decretou a falência do Laboratório Enila, Indústria e
Comércio de Produtos Químicos e Farmacêuticos. O laboratório havia sido
interditado pelas autoridades de vigilância.
Março/2009
JANAINA LAGE
da sucursal da Folha de S.Paulo no Rio
Fonte:
http://www1.folha.uol.com.br/folha/ciencia/ult306u534054.shtml
